sexta-feira, 1 de agosto de 2014

PISTOLAS AUTOMÁTICAS

      Quase sempre que leio ou ouço falar sobre armas na imprensa brasileira, fico extremamente contrariado em razão das muitas asneiras ditas e publicadas. Nessas horas, vendo e ouvindo tanta bobagem, começo a pensar sobre os outros assuntos noticiados. Será que são publicados depois de rigorosa pesquisa, ou como no caso das armas, são também cheios de "achismos" e sensacionalismos?
      Quando se trata de falar sobre armas, a regra da imprensa é usar palavras de impacto e exageros, tais como: "Arma de grosso calibre", falando de um fuzil .223, "Pistola automática", falando de uma Beretta 92, "Escopeta que mata elefantes", falando de uma espingarda calibre 12, "Arma invisível ao raio-X", falando de uma Glock e por aí vai a trilha de absurdos.
      Pois bem, neste artigo, pelo menos no que se refere às pistolas, pretendemos levar aos mais leigos, a informação de que a grande maioria delas, na realidade são semiautomáticas, ou seja, a cada tiro o atirador tem que aliviar o gatilho e acioná-lo novamente para novo disparo. Já as pistolas ditas automáticas, são aquelas que uma vez acionado o gatilho, continuam disparando até que o mesmo seja aliviado ou acabe a munição do carregador. São aquelas capazes de dar "rajadas", que podem ser continuas ou limitadas a dois ou três tiros.
      Pistolas automáticas existem há muitos anos, no entanto, devido às dimensões reduzidas, são extremamente difíceis de controlar quando atirando deste modo. Desta forma, a grande maioria dos modelos produzidos, destinam-se ao emprego em operações especiais, por parte de tropas militares e equipes policiais com treinamento diferenciado. A maioria das pistolas automáticas foram desenvolvidas a partir de projetos de armas semiautomáticas já existentes.
       É importante não confundir o tipo das armas abordadas aqui com as submetralhadoras, que embora em sua maioria utilizem munições de pistolas, são armas mais volumosas e normalmente requerem o emprego das duas mãos para serem operadas. Tal confusão se torna possível em virtude de que em muitos países, as submetralhadoras recebem a denominação de pistolas-metralhadoras, como em Portugal ou na Alemanha (Maschinenpistole - MP).
      A seguir, vamos relacionar alguns dos modelos mais conhecidos de pistolas automáticas, bem como fazer um breve resumo de sua história e características.

MAUSER M712 SCHNELLFEUER
      Esta arma é uma versão de tiro seletivo da famosa Pistola Mauser C-96. Sua história começa quando na década de 1920, os espanhóis, que até então somente produziam cópias da C-96, desenvolveram uma versão com opção de tiro seletivo, ou seja, automático e semiautomático, visando o mercado exterior, principalmente a China.
      Vendo a viabilidade da arma, em face do mercado existente, a Mauser Waffenfabrik resolve também produzir sua própria versão de tiro seletivo. Então, em 1932, lança o modelo M712, chamado de "Schnellfeuer", que em alemão significa "fogo rápido". A arma, baseada no modelo 1930 da C-96, utilizava carregadores destacáveis para 10 e 20 cartuchos e calibre 7,63X25 mm Mauser. A velocidade teórica de tiro era algo em torno de 900 tiros por minuto.
      No total, foram produzidas entre 1932 e 1938, perto de 98.000 unidades destas armas. O Brasil, tornou-se um dos clientes, adquirindo cerca de 500 unidades para as policias militares do antigo Distrito Federal (RJ) e São Paulo. Aqui, parte destas armas sofreram algumas alterações, sendo chamadas de PASAM (Pistola Automática Semiautomática Militar). As alterações, feitas por um armeiro de origem espanhola chamado Jener Damau Arroyo, foram realizadas com a finalidade de fornecer um maior controle da arma quando em tiro automático. Hoje, estas armas não são mais utilizadas, entretanto, segundo informações de uma fonte confiável, parte delas ainda encontram-se nos paióis de alguns batalhões da PMERJ.
Vista lateral esquerda de uma Pistola M712 com carregador para 20 cartuchos. Este modelo é baseado no projeto de Karl Westinger. Foram produzidos também exemplares com base no projeto de Josef Nickl, porém o de Westinger foi o mais usado e é o mais encontrado. De forma geral, a principal diferença entre as versões encontra-se no design da alavanca seletora.
PASAM (1ª Modificação)

PASAM (2ª Modificação)

STECHKIN APS
      A pistola automática Stechkin ou APS (Avtomaticheskiy Pistolet Stechkina, em russo: Автоматический Пистолет Стечкина) foi projetada por Igor Yakovlevich Stechkin e foi adotada pelo Exército Soviético, juntamente com a pistola Makarov, em 1951. Sua destinação foi equipar o pessoal da artilharia, guarnições de tanques, portadores de RPG e tripulações de aeronaves, ou seja, combatentes da retaguarda ou que devido às suas funções não poderiam portar uma arma mais volumosa, como um fuzil. 
      A Stechkin usa o calibre 9X18 mm Makarov e um carregador padrão com capacidade para 20 cartuchos. O seletor de tiro/alavanca de segurança possui três posições: Seguro, semiautomático e automático. A velocidade teórica de tiro, graças a um redutor, gira em torno de 700 TPM. A exemplo da Mauser M712, a Stechkin também possui uma coronha/coldre de madeira para disparar com a arma a partir do ombro.
      Considerada pesada para a categoria (1,220 kg com carregador cheio e sem coronha), a arma foi retirada de serviço na década de 1970. No entanto, posteriormente foi utilizada por diversos grupos de operações especiais, especialmente a versão silenciada denominada APB (Avtomaticheskij Pistolet Besshumny - Pistola automática silenciada).

Vista lateral esquerda de uma APS. (A borracha em torno da empunhadura não é original)
A APS com sua sua coronha/coldre acoplada.
A versão silenciada da APS, chamada APB, com o supressor acoplado e a coronha metálica destacável abaixo.



































Heckler & Koch VP-70
      A H&K VP-70 (Volkspistole - Pistola do povo, modelo 1970), foi a primeira arma a empregar uma armação de polímero (muitos acham que foi a pistola Glock, no entanto, esta só seria lançada 12 anos depois). Produzida principalmente no calibre 9 mm Luger (9x19 mm), teve também alguns exemplares dimensionados para o calibre 9X21 mm, utilizando em ambos os casos, carregadores com capacidade para 18 cartuchos.
      A arma foi produzida em duas versões: VP-70M (militar) e VP-70Z (civil). A diferença fundamental entre as duas versões, é que a militar possui uma coronha/coldre que uma vez acoplada à arma, permite realizar tiro semiautomático ou automático em rajadas limitadas de 3 tiros (burst). Retirada a coronha, a arma funciona somente de forma semiautomática, como na versão civil.

Vista lateral esquerda de uma VP-70M. Note o seletor de tiro situado na parte superior da coronha/coldre. Apesar da limitação da rajada em apenas 3 tiros, durante este ciclo a velocidade teórica de tiro é de cerca de 2.200 tiros por minuto.

BERETTA M93R
      Esta arma surgiu na Itália, no fim da década de 70 e tem seu desenho inspirado na pistola Beretta M92, cuja produção, permanece até os dias atuais. Ela foi criada para atender a demanda de alguns esquadrões policiais e militares, que necessitavam de uma arma com dimensões de pistola, porém, com maior capacidade de fogo. O significado da denominação utilizada é o seguinte: Calibre 9 mm, 3º modelo e o "R" vem de "Raffica", que significa rajada , em italiano.
      A 93R possui capacidade de tiro seletivo, podendo realizar disparos em semiautomático ou em rajadas controladas de 3 tiros. O sistema mecânico que controla o tiro em modo automático é localizado sob a placa do punho, no lado direito da arma. Além de também usar o calibre 9 mm Luger, o funcionamento da pistola obedece os mesmos princípios do modelo 92, ou seja, curto recuo do cano, com sistema de trancamento através de bloco deslizante vertical. No entanto, ao contrário da M92, que funciona tanto por ação simples ou dupla, a 93R dispara apenas em ação simples.
      No que se refere à apresentação geral da arma, ela possui diversas alterações e acessórios não encontrados na 92. Entre elas, podemos destacar:
  • Existência de um punho rebatível, fixado na parte anterior do guarda-mato, com a finalidade de permitir maior controle da arma quando disparando em rajadas;
  • Carregador com capacidade para 20 cartuchos, no entanto, ela pode usar os carregadores da M92 sem maiores problemas;
  • Seletor de tiro localizado na parte posterior da armação. O seletor utiliza o mesmo eixo da alavanca de segurança, no entanto, ambos trabalham de forma independente;
  • Armação e ferrolho reforçados de modo a suportar a elevada velocidade teórica de tiro de 1.100 TPM, quando disparando em rajadas; e
  • Capacidade de adaptação de uma coronha especialmente desenvolvida para disparar a partir do ombro.
Vista lateral direita de uma Beretta 93R com a coronha destacável acoplada.

Detalhe do seletor de tiro e da alavanca de segurança da 93R.

Vista da complicado mecanismo controlador da rajada de 3 tiros.

GLOCK 18
       É uma versão da pistola Glock modelo 17, também em calibre 9 mm Luger, capaz disparar tanto em semiautomático, como em modo totalmente automático. Esta arma foi projetada pela Glock, a pedido da unidade antiterrorista austríaca EKO Cobra (Einsatzkommando Cobra) e sua primeira aparição data de 1986.
        A Glock 18 utiliza como padrão um carregador com capacidade para 33 cartuchos, no entanto, pode utilizar também os de 10, 17 ou 19 cartuchos. No modelo inicial, salvo pela existência do seletor de tiro, situado na parte posterior esquerda do ferrolho, a arma assemelha-se muito à Glock 17. Posteriormente, foi lançada uma versão denominada 18C, onde a principal alteração foi um corte na parte superior da dianteira do ferrolho, com a finalidade de facilitar o escape dos gases, oriundos de quatro cortes feitos na parte superior do cano. O propósito desta alteração foi melhorar o controle da subida da boca do cano, quando disparando em modo automático. A velocidade teórica de tiro, em ambas as versões, gira em torno  de 1.200 TPM.
      Como nas demais armas da categoria, a G18/G18C também podem ser acopladas à uma coronha tipo esqueleto, especialmente desenhada para dispara-las a partir do ombro.
Vista lateral esquerda de uma Glock 18 equipada com um carregador para 33 cartuchos.
Vista superior de uma Glock 18C. Note o rasgo na parte superior de ferrolho e os cortes compensadores progressivos existentes no cano.