sábado, 12 de julho de 2014

GRANDES ARMEIROS - Parte I

      Seguindo ainda a linha de falar sobre a história das armas de fogo, nesta postagem, vamos iniciar a abordagem de um assunto do qual pouco se fala e quase nada se escreve no Brasil: Os maiores armeiros e homens de armas da história. O leitor deve estar se perguntando qual seria a diferença entre um e outro. Pois bem, neste artigo, vamos classificar como armeiro, o profissional cujo gênio criador e empreendedor, o fizeram criar novos modelos e sistemas, que revolucionaram a história da evolução das armas e das munições e, por consequência, da própria humanidade. O "Homem de Armas", por sua vez, é o elemento que impulsiona o desenvolvimento de novas tecnologias, através do empreendedorismo e de uma visão apurada e privilegiada das necessidades do "mercado" e do "Estado da Arte", sem ser necessariamente um inventor. 
      É importante salientar que os personagens aqui relacionados, cujas criações foram consideradas importantes no cenário da evolução das armas de fogo, foram escolhidos seguindo uma visão particular do autor. Algumas das personalidades elencadas abaixo, lançaram várias inovações, parte delas também em outras áreas, no entanto, neste artigo, vamos focalizar apenas as criações mais importantes para a história das armas de fogo. Como trata-se de assunto muito extenso, vamos publica-lo em partes que podem ser consecutivas ou não.

PATRICK FERGUSON
Pintura idealizada de Patrick Ferguson

Desenho esquemático do modo de operação de um rifle Ferguson

     Oficial do exército inglês, nascido na Escócia, Patrick Ferguson desenvolveu em 1770, uma arma que foi o primeiro rifle de retrocarga a ser testado pelos militares ingleses: O rifle Ferguson. Criado no inicio da revolução industrial, onde as armas de antecarga e alma lisa eram o padrão, o rifle Ferguson não alcançou grande sucesso. Foram produzidas apenas cerca de 100 unidades que foram utilizadas na Guerra da Independência dos Estados Unidos, por um regimento especial de atiradores comandados pelo próprio Patrick Ferguson. Na batalha de Kings Montain, Ferguson foi ferido e acabou morrendo.
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Alexander John Forsyth



ALEXANDER J. FORSYTH
      Nascido na Escócia, o clérigo presbiteriano e caçador, patenteou em 1807 um dispositivo que utilizava o fulminato de mercúrio como elemento iniciador da queima das cargas de projeção. O dispositivo devido à sua forma característica, foi apelidado de "Frasco de Perfume". Foi utilizado em mosquetes, pistolas e espingardas, iniciando a era da iniciação à percussão.
Vista lateral direita de uma espingarda de canos paralelos e iniciação por percussão "Forsyth"
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CASIMIR LEFAUCHEUX 
(Não há imagens disponíveis deste inventor)
      Nascido na França em 1802, este armeiro ficou conhecido por patentear em 07 janeiro de 1835, o primeiro cartucho auto-contido (juntava numa única peça a iniciação, carga de projeção e projétil) eficiente da história. Estes cartuchos, que ficaram conhecidos como de "espiga", de "ignição por pino", ou em inglês "pinfire", hoje são normalmente chamados apenas de "Lefaucheux".
       A criação de Casimir Lefaucheux foi baseada nos desenhos do suíço Jean Samuel Pauly e do também francês, François Prelat, que haviam patenteado um cartucho auto-suficiente, por volta de 1808.
      Inicialmente, os cartuchos criados por Casimir eram constituídos por um tubo de papel cartão, fixado a uma base de cobre, de onde aflorava o pino iniciador. Posteriormente, em 1846, outro armeiro francês,  Benjamin Houllier, aperfeiçoou o projeto, tornando os cartuchos totalmente metálicos.
      Apesar de terem sido bastante difundidos, os cartuchos Lefaucheux eram considerados inseguros, devido ao risco de iniciação por choque ou queda, ou enroscarem-se nas vestimentas quando as armas estavam carregadas, já que os pinos de ignição afloravam para fora do estojo.
    
Desenho esquemático de um cartucho Lefaucheux
A partir da esquerda: Cartucho .50 para revólver, cartucho calibre 24 para espingarda, cartucho 12 mm produzido na Inglaterra e cartucho 12 mm produzido na França. Os dois primeiros, são dos modelos iniciais de cartuchos Lefaucheux, ainda utilizando estojos com uma base de cobre, completada por papel cartão. Posteriormente os estojos, principalmente para revólveres, passaram a ser totalmente metálicos, como os da direita.
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Samuel Colt


SAMUEL COLT
     Nascido em Hartford, no estado americano de Connecticut, EUA, em 19 de julho de 1814, Samuel Colt ficou conhecido por projetar e patentear uma arma, batizada por ele de “Revolving Gun”, primeiramente na Inglaterra, em 1835, depois, na França e nos Estados Unidos, em 1836. A arma em questão, viria a ser o primeiro revólver da história a obter algum sucesso comercial. 
      Samuel Colt fundou em Paterson, New Jersey, sua primeira fábrica, a "Patent Arms Manufacturing Co.", onde começou a produção da arma que devido a localização da fabrico ficou conhecido como: Colt Paterson.
(vide o 1º artigo deste Blog: As origens do revólver) 




Colt Paterson modelo "Belt"





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Johann Nikolaus von Dreyse

JOHANN N. VON DREYSE
      Johann Dreyse nasceu em Sömmerda, na Alemanha, em 1797, ficando famoso por desenvolver e patentear o chamado Fuzil de Agulha (Zündnadelgewehr, em alemão, ou needle gun, em inglês) e seu respectivo cartucho. Antes da sua mais famosa criação, Dreyse trabalhou em Paris com o armeiro suíço Jean Samuel Pauly, onde provavelmente adquiriu experiência e conhecimentos para sua futura invenção. 
      Em 1836, J. Dreyse apresentou seu fuzil ao exército prussiano, onde foi adotado em 1941 com a denominação "Leichtes Perkussionsgewehr M 1841" (Fuzil leve de percussão modelo 1941).  
      As vantagens do fuzil Dreyse sobre as demais armas da época, foram o emprego do cartucho auto-suficiente, somado ao carregamento pela culatra. Isto permitia ao soldado fazer o recarregamento de joelhos, ou até mesmo deitado, com grande rapidez e pouca exposição ao fogo inimigo.




Desenho esquemático mostrando o momento da percussão no fuzil Dreyse. Note que o percursor (agulha - daí o nome), muito fino, atravessa toda carga de projeção para ferir a cápsula com o fulminante. Esta condição expunha a agulha a altas temperaturas a cada disparo, ocasionando a perda da têmpera do metal e sua consequente ruptura. Como pode ser visto na imagem, o cartucho do Dreyse era confeccionado de papel, onde era colocada uma carga de pólvora negra, uma pequena cápsula contendo fulminante, um apoio de madeira e um projétil oval de 15,4 mm.
Vista lateral direita de um fuzil Dreyse. Este fuzil foi o precursor dos fuzis de ação por ferrolho.
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Claude-Etienne Minie

CLAUDE-E. MINIE
      Foi um oficial do exército francês, famoso por desenvolver, em 1849, um fuzil de antecarga e por aperfeiçoar a ideia de um projétil cilindro-cônico adequado para carregar pela boca: A bala Minié. 
      Em meados do século XIX, o mundo das armas vivia um período de transição. Enfim, havia-se percebido as vantagens do cano raiado (alcance/precisão), no entanto, salvo algumas poucas exceções, a grande maioria das armas eram ainda de antecarga. O grande problema residia na seguinte questão: Como fazer um carregamento rápido, com projéteis engrazados nas raias? A solução proposta por Minié, foi utilizar uma bala cilindro-ogival, com diâmetro ligeiramente menor que o do cano e uma cavidade do mesmo formato em sua base. Nesta cavidade era inserido um pequeno taco de latão ou madeira. Assim, o atirador após colocar a pólvora na câmara, introduzia facilmente o projétil com auxilio de uma vareta. Ao ser efetuado o disparo, a pressão dos gases atuavam sobre o taco, forçando-o para frente e fazendo as bordas do projétil engrazarem nas raias. Com o tempo, percebeu-se que os tacos colocados na cavidade eram desnecessários, sendo a força dos gases, suficiente para expandir a bala.


Balas Minnié da época da guerra civil americana. A partir da esquerda: Calibre .54, .58 e .69.
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Eugene Gabriel Lefaucheux



  EUGENE LEFAUCHEUX
      Filho do já falado Casimir Lefaucheux, Eugene nasceu em Paris em 1832. Sua principal colaboração para o mundo das armas, foi patentear em abril de 1854, um revólver de seis tiros, desenhado para utilizar munições de ignição por pino (Lefaucheux),  que viria se tornar o famoso "Revólver de pino modelo 1854". A arma, no calibre 12 mm, foi largamente difundida pela Europa, sendo produzida em versões civis e militares. Foi considerada em sua época, a arma de mão mais avançada do mundo.

Exemplar de um dos primeiros modelos do revólver 1854

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Christopher Miner Spencer
CHRISTOPHER SPENCER
      Christopher Miner Spencer nasceu em Manchester, Connecticut, EUA, em 20 de junho de 1833. Trabalhou desde cedo em várias empresas, entre elas a Colt de Hartford, onde ficou até até 1854. Admirador e inventor do ramo da mecânica, registrou 42 patentes durante sua vida. Sua contribuição para a evolução das armas de fogo, foi o desenvolvimento de um rifle de repetição e ação por alavanca, patenteado em março de 1860: O rifle Spencer.
     A arma desenhada por Spencer, cuja criação foi viabilizada pelo recente surgimento do cartucho metálico de fogo circular, foi primeiramente adotada pela marinha americana. Posteriormente, por ordem do próprio presidente Abraham Lincoln, foi também adotada exército, onde foi muito utilizada durante a Guerra da Secessão. Em 1862, C. Spencer fundou a Spencer Repeating Rifle Company, com a finalidade de atender à demanda de encomendas, em virtude da guerra em curso.
       Em 1866, o Exército Brasileiro adquiriu a carabina Spencer, (por aqui chamada de clavina) para uso da sua cavalaria durante a Guerra do Paraguai. Embora certamente tenha causado problemas para a logística, devido a ser mais um tipo de munição a ser suprido, existem relatos onde o emprego das Spencer, por parte de soldados brasileiros, fez a diferença em vários combates.
Carabina Spencer fabricada em 1865
1 - Carabina Spencer modelo 1865 calibre .52;
2 - Tubo carregador com mola;
3 - Vista em corte de uma carabina Spencer;
4 - Chamada de Blakeslee Cartridge Box, esta caixa de madeira revestida com couro, foi patenteada em 1864 pelo voluntário da cavalaria do Connecticut, Erastus Blakeslee e era produzida em versões com seis, dez ou treze tubos com sete cartuchos cada; e
5 - Cartucho de fogo circular calibre .56-56. Este foi o primeiro calibre a ser usado pelas Spencer, no entanto, com o passar do tempo, outros calibres foram utilizados, como o .56-52 e o .56-50. Neste caso, a nomenclatura foge do padrão dos demais cartuchos da época, sendo que o primeiro grupo numérico representa a dimensão da base do estojo e o segundo, as dimensões da boca.
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Benjamin Tyler Henry



BENJAMIN TYLER HENRY
      Benjamin Tyler Henry nasceu em Woodstok, Vermont, EUA, em 22 de março de 1821. Em 16 de outubro de 1860, trabalhando na New Haven Arms, de Oliver Winchester, teve concedida a patente um rifle de repetição e ação por alavanca e sua respectiva munição. Esta arma, viria a se tornar o famoso Rifle Henry e juntamente com o Spencer, foi uma das primeiras armas de ação por alavanca da história.
      O Rifle Henry foi usado por parte das forças da união durante a guerra da secessão, a maioria dos quais comprados pelos próprios soldados. Foi creditado a um oficial confederado a seguinte frase: "Aquele maldito rifle Yankee que eles carregam no domingo e atiram a semana toda."
      A expressão acima, provavelmente se deve à grande capacidade do carregador tubular do rifle: 16 cartuchos .44 Henry de fogo circular.
Variações do famoso cartucho .44 Henry

Raro exemplar de um rifle Henry da época da Guerra Civil americana. O design da arma serviu de base para as futuras armas Winchesters. Na verdade o primeiro modelo Winchester: O 1866 (Yellow Boy), é uma evolução do Henry, com muitos pontos em comum entre eles, como o calibre. Entretanto, existem também algumas diferenças, entre elas podemos destacar a existência na 1866, de uma janela para alimentação do lado direita da caixa de culatra e um guarda mão de madeira.
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