sexta-feira, 1 de agosto de 2014

PISTOLAS AUTOMÁTICAS

      Quase sempre que leio ou ouço falar sobre armas na imprensa brasileira, fico extremamente contrariado em razão das muitas asneiras ditas e publicadas. Nessas horas, vendo e ouvindo tanta bobagem, começo a pensar sobre os outros assuntos noticiados. Será que são publicados depois de rigorosa pesquisa, ou como no caso das armas, são também cheios de "achismos" e sensacionalismos?
      Quando se trata de falar sobre armas, a regra da imprensa é usar palavras de impacto e exageros, tais como: "Arma de grosso calibre", falando de um fuzil .223, "Pistola automática", falando de uma Beretta 92, "Escopeta que mata elefantes", falando de uma espingarda calibre 12, "Arma invisível ao raio-X", falando de uma Glock e por aí vai a trilha de absurdos.
      Pois bem, neste artigo, pelo menos no que se refere às pistolas, pretendemos levar aos mais leigos, a informação de que a grande maioria delas, na realidade são semiautomáticas, ou seja, a cada tiro o atirador tem que aliviar o gatilho e acioná-lo novamente para novo disparo. Já as pistolas ditas automáticas, são aquelas que uma vez acionado o gatilho, continuam disparando até que o mesmo seja aliviado ou acabe a munição do carregador. São aquelas capazes de dar "rajadas", que podem ser continuas ou limitadas a dois ou três tiros.
      Pistolas automáticas existem há muitos anos, no entanto, devido às dimensões reduzidas, são extremamente difíceis de controlar quando atirando deste modo. Desta forma, a grande maioria dos modelos produzidos, destinam-se ao emprego em operações especiais, por parte de tropas militares e equipes policiais com treinamento diferenciado. A maioria das pistolas automáticas foram desenvolvidas a partir de projetos de armas semiautomáticas já existentes.
       É importante não confundir o tipo das armas abordadas aqui com as submetralhadoras, que embora em sua maioria utilizem munições de pistolas, são armas mais volumosas e normalmente requerem o emprego das duas mãos para serem operadas. Tal confusão se torna possível em virtude de que em muitos países, as submetralhadoras recebem a denominação de pistolas-metralhadoras, como em Portugal ou na Alemanha (Maschinenpistole - MP).
      A seguir, vamos relacionar alguns dos modelos mais conhecidos de pistolas automáticas, bem como fazer um breve resumo de sua história e características.

MAUSER M712 SCHNELLFEUER
      Esta arma é uma versão de tiro seletivo da famosa Pistola Mauser C-96. Sua história começa quando na década de 1920, os espanhóis, que até então somente produziam cópias da C-96, desenvolveram uma versão com opção de tiro seletivo, ou seja, automático e semiautomático, visando o mercado exterior, principalmente a China.
      Vendo a viabilidade da arma, em face do mercado existente, a Mauser Waffenfabrik resolve também produzir sua própria versão de tiro seletivo. Então, em 1932, lança o modelo M712, chamado de "Schnellfeuer", que em alemão significa "fogo rápido". A arma, baseada no modelo 1930 da C-96, utilizava carregadores destacáveis para 10 e 20 cartuchos e calibre 7,63X25 mm Mauser. A velocidade teórica de tiro era algo em torno de 900 tiros por minuto.
      No total, foram produzidas entre 1932 e 1938, perto de 98.000 unidades destas armas. O Brasil, tornou-se um dos clientes, adquirindo cerca de 500 unidades para as policias militares do antigo Distrito Federal (RJ) e São Paulo. Aqui, parte destas armas sofreram algumas alterações, sendo chamadas de PASAM (Pistola Automática Semiautomática Militar). As alterações, feitas por um armeiro de origem espanhola chamado Jener Damau Arroyo, foram realizadas com a finalidade de fornecer um maior controle da arma quando em tiro automático. Hoje, estas armas não são mais utilizadas, entretanto, segundo informações de uma fonte confiável, parte delas ainda encontram-se nos paióis de alguns batalhões da PMERJ.
Vista lateral esquerda de uma Pistola M712 com carregador para 20 cartuchos. Este modelo é baseado no projeto de Karl Westinger. Foram produzidos também exemplares com base no projeto de Josef Nickl, porém o de Westinger foi o mais usado e é o mais encontrado. De forma geral, a principal diferença entre as versões encontra-se no design da alavanca seletora.
PASAM (1ª Modificação)

PASAM (2ª Modificação)

STECHKIN APS
      A pistola automática Stechkin ou APS (Avtomaticheskiy Pistolet Stechkina, em russo: Автоматический Пистолет Стечкина) foi projetada por Igor Yakovlevich Stechkin e foi adotada pelo Exército Soviético, juntamente com a pistola Makarov, em 1951. Sua destinação foi equipar o pessoal da artilharia, guarnições de tanques, portadores de RPG e tripulações de aeronaves, ou seja, combatentes da retaguarda ou que devido às suas funções não poderiam portar uma arma mais volumosa, como um fuzil. 
      A Stechkin usa o calibre 9X18 mm Makarov e um carregador padrão com capacidade para 20 cartuchos. O seletor de tiro/alavanca de segurança possui três posições: Seguro, semiautomático e automático. A velocidade teórica de tiro, graças a um redutor, gira em torno de 700 TPM. A exemplo da Mauser M712, a Stechkin também possui uma coronha/coldre de madeira para disparar com a arma a partir do ombro.
      Considerada pesada para a categoria (1,220 kg com carregador cheio e sem coronha), a arma foi retirada de serviço na década de 1970. No entanto, posteriormente foi utilizada por diversos grupos de operações especiais, especialmente a versão silenciada denominada APB (Avtomaticheskij Pistolet Besshumny - Pistola automática silenciada).

Vista lateral esquerda de uma APS. (A borracha em torno da empunhadura não é original)
A APS com sua sua coronha/coldre acoplada.
A versão silenciada da APS, chamada APB, com o supressor acoplado e a coronha metálica destacável abaixo.



































Heckler & Koch VP-70
      A H&K VP-70 (Volkspistole - Pistola do povo, modelo 1970), foi a primeira arma a empregar uma armação de polímero (muitos acham que foi a pistola Glock, no entanto, esta só seria lançada 12 anos depois). Produzida principalmente no calibre 9 mm Luger (9x19 mm), teve também alguns exemplares dimensionados para o calibre 9X21 mm, utilizando em ambos os casos, carregadores com capacidade para 18 cartuchos.
      A arma foi produzida em duas versões: VP-70M (militar) e VP-70Z (civil). A diferença fundamental entre as duas versões, é que a militar possui uma coronha/coldre que uma vez acoplada à arma, permite realizar tiro semiautomático ou automático em rajadas limitadas de 3 tiros (burst). Retirada a coronha, a arma funciona somente de forma semiautomática, como na versão civil.

Vista lateral esquerda de uma VP-70M. Note o seletor de tiro situado na parte superior da coronha/coldre. Apesar da limitação da rajada em apenas 3 tiros, durante este ciclo a velocidade teórica de tiro é de cerca de 2.200 tiros por minuto.

BERETTA M93R
      Esta arma surgiu na Itália, no fim da década de 70 e tem seu desenho inspirado na pistola Beretta M92, cuja produção, permanece até os dias atuais. Ela foi criada para atender a demanda de alguns esquadrões policiais e militares, que necessitavam de uma arma com dimensões de pistola, porém, com maior capacidade de fogo. O significado da denominação utilizada é o seguinte: Calibre 9 mm, 3º modelo e o "R" vem de "Raffica", que significa rajada , em italiano.
      A 93R possui capacidade de tiro seletivo, podendo realizar disparos em semiautomático ou em rajadas controladas de 3 tiros. O sistema mecânico que controla o tiro em modo automático é localizado sob a placa do punho, no lado direito da arma. Além de também usar o calibre 9 mm Luger, o funcionamento da pistola obedece os mesmos princípios do modelo 92, ou seja, curto recuo do cano, com sistema de trancamento através de bloco deslizante vertical. No entanto, ao contrário da M92, que funciona tanto por ação simples ou dupla, a 93R dispara apenas em ação simples.
      No que se refere à apresentação geral da arma, ela possui diversas alterações e acessórios não encontrados na 92. Entre elas, podemos destacar:
  • Existência de um punho rebatível, fixado na parte anterior do guarda-mato, com a finalidade de permitir maior controle da arma quando disparando em rajadas;
  • Carregador com capacidade para 20 cartuchos, no entanto, ela pode usar os carregadores da M92 sem maiores problemas;
  • Seletor de tiro localizado na parte posterior da armação. O seletor utiliza o mesmo eixo da alavanca de segurança, no entanto, ambos trabalham de forma independente;
  • Armação e ferrolho reforçados de modo a suportar a elevada velocidade teórica de tiro de 1.100 TPM, quando disparando em rajadas; e
  • Capacidade de adaptação de uma coronha especialmente desenvolvida para disparar a partir do ombro.
Vista lateral direita de uma Beretta 93R com a coronha destacável acoplada.

Detalhe do seletor de tiro e da alavanca de segurança da 93R.

Vista da complicado mecanismo controlador da rajada de 3 tiros.

GLOCK 18
       É uma versão da pistola Glock modelo 17, também em calibre 9 mm Luger, capaz disparar tanto em semiautomático, como em modo totalmente automático. Esta arma foi projetada pela Glock, a pedido da unidade antiterrorista austríaca EKO Cobra (Einsatzkommando Cobra) e sua primeira aparição data de 1986.
        A Glock 18 utiliza como padrão um carregador com capacidade para 33 cartuchos, no entanto, pode utilizar também os de 10, 17 ou 19 cartuchos. No modelo inicial, salvo pela existência do seletor de tiro, situado na parte posterior esquerda do ferrolho, a arma assemelha-se muito à Glock 17. Posteriormente, foi lançada uma versão denominada 18C, onde a principal alteração foi um corte na parte superior da dianteira do ferrolho, com a finalidade de facilitar o escape dos gases, oriundos de quatro cortes feitos na parte superior do cano. O propósito desta alteração foi melhorar o controle da subida da boca do cano, quando disparando em modo automático. A velocidade teórica de tiro, em ambas as versões, gira em torno  de 1.200 TPM.
      Como nas demais armas da categoria, a G18/G18C também podem ser acopladas à uma coronha tipo esqueleto, especialmente desenhada para dispara-las a partir do ombro.
Vista lateral esquerda de uma Glock 18 equipada com um carregador para 33 cartuchos.
Vista superior de uma Glock 18C. Note o rasgo na parte superior de ferrolho e os cortes compensadores progressivos existentes no cano.

sábado, 12 de julho de 2014

GRANDES ARMEIROS - Parte I

      Seguindo ainda a linha de falar sobre a história das armas de fogo, nesta postagem, vamos iniciar a abordagem de um assunto do qual pouco se fala e quase nada se escreve no Brasil: Os maiores armeiros e homens de armas da história. O leitor deve estar se perguntando qual seria a diferença entre um e outro. Pois bem, neste artigo, vamos classificar como armeiro, o profissional cujo gênio criador e empreendedor, o fizeram criar novos modelos e sistemas, que revolucionaram a história da evolução das armas e das munições e, por consequência, da própria humanidade. O "Homem de Armas", por sua vez, é o elemento que impulsiona o desenvolvimento de novas tecnologias, através do empreendedorismo e de uma visão apurada e privilegiada das necessidades do "mercado" e do "Estado da Arte", sem ser necessariamente um inventor. 
      É importante salientar que os personagens aqui relacionados, cujas criações foram consideradas importantes no cenário da evolução das armas de fogo, foram escolhidos seguindo uma visão particular do autor. Algumas das personalidades elencadas abaixo, lançaram várias inovações, parte delas também em outras áreas, no entanto, neste artigo, vamos focalizar apenas as criações mais importantes para a história das armas de fogo. Como trata-se de assunto muito extenso, vamos publica-lo em partes que podem ser consecutivas ou não.

PATRICK FERGUSON
Pintura idealizada de Patrick Ferguson

Desenho esquemático do modo de operação de um rifle Ferguson

     Oficial do exército inglês, nascido na Escócia, Patrick Ferguson desenvolveu em 1770, uma arma que foi o primeiro rifle de retrocarga a ser testado pelos militares ingleses: O rifle Ferguson. Criado no inicio da revolução industrial, onde as armas de antecarga e alma lisa eram o padrão, o rifle Ferguson não alcançou grande sucesso. Foram produzidas apenas cerca de 100 unidades que foram utilizadas na Guerra da Independência dos Estados Unidos, por um regimento especial de atiradores comandados pelo próprio Patrick Ferguson. Na batalha de Kings Montain, Ferguson foi ferido e acabou morrendo.
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Alexander John Forsyth



ALEXANDER J. FORSYTH
      Nascido na Escócia, o clérigo presbiteriano e caçador, patenteou em 1807 um dispositivo que utilizava o fulminato de mercúrio como elemento iniciador da queima das cargas de projeção. O dispositivo devido à sua forma característica, foi apelidado de "Frasco de Perfume". Foi utilizado em mosquetes, pistolas e espingardas, iniciando a era da iniciação à percussão.
Vista lateral direita de uma espingarda de canos paralelos e iniciação por percussão "Forsyth"
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CASIMIR LEFAUCHEUX 
(Não há imagens disponíveis deste inventor)
      Nascido na França em 1802, este armeiro ficou conhecido por patentear em 07 janeiro de 1835, o primeiro cartucho auto-contido (juntava numa única peça a iniciação, carga de projeção e projétil) eficiente da história. Estes cartuchos, que ficaram conhecidos como de "espiga", de "ignição por pino", ou em inglês "pinfire", hoje são normalmente chamados apenas de "Lefaucheux".
       A criação de Casimir Lefaucheux foi baseada nos desenhos do suíço Jean Samuel Pauly e do também francês, François Prelat, que haviam patenteado um cartucho auto-suficiente, por volta de 1808.
      Inicialmente, os cartuchos criados por Casimir eram constituídos por um tubo de papel cartão, fixado a uma base de cobre, de onde aflorava o pino iniciador. Posteriormente, em 1846, outro armeiro francês,  Benjamin Houllier, aperfeiçoou o projeto, tornando os cartuchos totalmente metálicos.
      Apesar de terem sido bastante difundidos, os cartuchos Lefaucheux eram considerados inseguros, devido ao risco de iniciação por choque ou queda, ou enroscarem-se nas vestimentas quando as armas estavam carregadas, já que os pinos de ignição afloravam para fora do estojo.
    
Desenho esquemático de um cartucho Lefaucheux
A partir da esquerda: Cartucho .50 para revólver, cartucho calibre 24 para espingarda, cartucho 12 mm produzido na Inglaterra e cartucho 12 mm produzido na França. Os dois primeiros, são dos modelos iniciais de cartuchos Lefaucheux, ainda utilizando estojos com uma base de cobre, completada por papel cartão. Posteriormente os estojos, principalmente para revólveres, passaram a ser totalmente metálicos, como os da direita.
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Samuel Colt


SAMUEL COLT
     Nascido em Hartford, no estado americano de Connecticut, EUA, em 19 de julho de 1814, Samuel Colt ficou conhecido por projetar e patentear uma arma, batizada por ele de “Revolving Gun”, primeiramente na Inglaterra, em 1835, depois, na França e nos Estados Unidos, em 1836. A arma em questão, viria a ser o primeiro revólver da história a obter algum sucesso comercial. 
      Samuel Colt fundou em Paterson, New Jersey, sua primeira fábrica, a "Patent Arms Manufacturing Co.", onde começou a produção da arma que devido a localização da fabrico ficou conhecido como: Colt Paterson.
(vide o 1º artigo deste Blog: As origens do revólver) 




Colt Paterson modelo "Belt"





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Johann Nikolaus von Dreyse

JOHANN N. VON DREYSE
      Johann Dreyse nasceu em Sömmerda, na Alemanha, em 1797, ficando famoso por desenvolver e patentear o chamado Fuzil de Agulha (Zündnadelgewehr, em alemão, ou needle gun, em inglês) e seu respectivo cartucho. Antes da sua mais famosa criação, Dreyse trabalhou em Paris com o armeiro suíço Jean Samuel Pauly, onde provavelmente adquiriu experiência e conhecimentos para sua futura invenção. 
      Em 1836, J. Dreyse apresentou seu fuzil ao exército prussiano, onde foi adotado em 1941 com a denominação "Leichtes Perkussionsgewehr M 1841" (Fuzil leve de percussão modelo 1941).  
      As vantagens do fuzil Dreyse sobre as demais armas da época, foram o emprego do cartucho auto-suficiente, somado ao carregamento pela culatra. Isto permitia ao soldado fazer o recarregamento de joelhos, ou até mesmo deitado, com grande rapidez e pouca exposição ao fogo inimigo.




Desenho esquemático mostrando o momento da percussão no fuzil Dreyse. Note que o percursor (agulha - daí o nome), muito fino, atravessa toda carga de projeção para ferir a cápsula com o fulminante. Esta condição expunha a agulha a altas temperaturas a cada disparo, ocasionando a perda da têmpera do metal e sua consequente ruptura. Como pode ser visto na imagem, o cartucho do Dreyse era confeccionado de papel, onde era colocada uma carga de pólvora negra, uma pequena cápsula contendo fulminante, um apoio de madeira e um projétil oval de 15,4 mm.
Vista lateral direita de um fuzil Dreyse. Este fuzil foi o precursor dos fuzis de ação por ferrolho.
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Claude-Etienne Minie

CLAUDE-E. MINIE
      Foi um oficial do exército francês, famoso por desenvolver, em 1849, um fuzil de antecarga e por aperfeiçoar a ideia de um projétil cilindro-cônico adequado para carregar pela boca: A bala Minié. 
      Em meados do século XIX, o mundo das armas vivia um período de transição. Enfim, havia-se percebido as vantagens do cano raiado (alcance/precisão), no entanto, salvo algumas poucas exceções, a grande maioria das armas eram ainda de antecarga. O grande problema residia na seguinte questão: Como fazer um carregamento rápido, com projéteis engrazados nas raias? A solução proposta por Minié, foi utilizar uma bala cilindro-ogival, com diâmetro ligeiramente menor que o do cano e uma cavidade do mesmo formato em sua base. Nesta cavidade era inserido um pequeno taco de latão ou madeira. Assim, o atirador após colocar a pólvora na câmara, introduzia facilmente o projétil com auxilio de uma vareta. Ao ser efetuado o disparo, a pressão dos gases atuavam sobre o taco, forçando-o para frente e fazendo as bordas do projétil engrazarem nas raias. Com o tempo, percebeu-se que os tacos colocados na cavidade eram desnecessários, sendo a força dos gases, suficiente para expandir a bala.


Balas Minnié da época da guerra civil americana. A partir da esquerda: Calibre .54, .58 e .69.
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Eugene Gabriel Lefaucheux



  EUGENE LEFAUCHEUX
      Filho do já falado Casimir Lefaucheux, Eugene nasceu em Paris em 1832. Sua principal colaboração para o mundo das armas, foi patentear em abril de 1854, um revólver de seis tiros, desenhado para utilizar munições de ignição por pino (Lefaucheux),  que viria se tornar o famoso "Revólver de pino modelo 1854". A arma, no calibre 12 mm, foi largamente difundida pela Europa, sendo produzida em versões civis e militares. Foi considerada em sua época, a arma de mão mais avançada do mundo.

Exemplar de um dos primeiros modelos do revólver 1854

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Christopher Miner Spencer
CHRISTOPHER SPENCER
      Christopher Miner Spencer nasceu em Manchester, Connecticut, EUA, em 20 de junho de 1833. Trabalhou desde cedo em várias empresas, entre elas a Colt de Hartford, onde ficou até até 1854. Admirador e inventor do ramo da mecânica, registrou 42 patentes durante sua vida. Sua contribuição para a evolução das armas de fogo, foi o desenvolvimento de um rifle de repetição e ação por alavanca, patenteado em março de 1860: O rifle Spencer.
     A arma desenhada por Spencer, cuja criação foi viabilizada pelo recente surgimento do cartucho metálico de fogo circular, foi primeiramente adotada pela marinha americana. Posteriormente, por ordem do próprio presidente Abraham Lincoln, foi também adotada exército, onde foi muito utilizada durante a Guerra da Secessão. Em 1862, C. Spencer fundou a Spencer Repeating Rifle Company, com a finalidade de atender à demanda de encomendas, em virtude da guerra em curso.
       Em 1866, o Exército Brasileiro adquiriu a carabina Spencer, (por aqui chamada de clavina) para uso da sua cavalaria durante a Guerra do Paraguai. Embora certamente tenha causado problemas para a logística, devido a ser mais um tipo de munição a ser suprido, existem relatos onde o emprego das Spencer, por parte de soldados brasileiros, fez a diferença em vários combates.
Carabina Spencer fabricada em 1865
1 - Carabina Spencer modelo 1865 calibre .52;
2 - Tubo carregador com mola;
3 - Vista em corte de uma carabina Spencer;
4 - Chamada de Blakeslee Cartridge Box, esta caixa de madeira revestida com couro, foi patenteada em 1864 pelo voluntário da cavalaria do Connecticut, Erastus Blakeslee e era produzida em versões com seis, dez ou treze tubos com sete cartuchos cada; e
5 - Cartucho de fogo circular calibre .56-56. Este foi o primeiro calibre a ser usado pelas Spencer, no entanto, com o passar do tempo, outros calibres foram utilizados, como o .56-52 e o .56-50. Neste caso, a nomenclatura foge do padrão dos demais cartuchos da época, sendo que o primeiro grupo numérico representa a dimensão da base do estojo e o segundo, as dimensões da boca.
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Benjamin Tyler Henry



BENJAMIN TYLER HENRY
      Benjamin Tyler Henry nasceu em Woodstok, Vermont, EUA, em 22 de março de 1821. Em 16 de outubro de 1860, trabalhando na New Haven Arms, de Oliver Winchester, teve concedida a patente um rifle de repetição e ação por alavanca e sua respectiva munição. Esta arma, viria a se tornar o famoso Rifle Henry e juntamente com o Spencer, foi uma das primeiras armas de ação por alavanca da história.
      O Rifle Henry foi usado por parte das forças da união durante a guerra da secessão, a maioria dos quais comprados pelos próprios soldados. Foi creditado a um oficial confederado a seguinte frase: "Aquele maldito rifle Yankee que eles carregam no domingo e atiram a semana toda."
      A expressão acima, provavelmente se deve à grande capacidade do carregador tubular do rifle: 16 cartuchos .44 Henry de fogo circular.
Variações do famoso cartucho .44 Henry

Raro exemplar de um rifle Henry da época da Guerra Civil americana. O design da arma serviu de base para as futuras armas Winchesters. Na verdade o primeiro modelo Winchester: O 1866 (Yellow Boy), é uma evolução do Henry, com muitos pontos em comum entre eles, como o calibre. Entretanto, existem também algumas diferenças, entre elas podemos destacar a existência na 1866, de uma janela para alimentação do lado direita da caixa de culatra e um guarda mão de madeira.
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domingo, 1 de junho de 2014

O FN FAL

      Em nossa penúltima postagem, falamos sobre a arma que foi o símbolo da criatividade e da força dos povos além da “Cortina de Ferro”: O fuzil de assalto AK-47. Agora, vamos abordar, de forma sucinta, o seu principal antagonista contemporâneo, ou seja, o fuzil que ficou conhecido como “O Braço Direito do Mundo Livre”: O FN FAL.

A FN
      A sigla “FAL” vem da expressão “Fusil Automatique Léger” ou, em português, “Fuzil Automático Leve”.  O significado de “FN”, vem da empresa pela qual a arma foi desenvolvida, a Fabrique Nationale d'Armes de Guerre, atualmente chamada de Fabrique Nationale d’Herstal (Fabrica Nacional de Herstal), situada na pequena cidade de Herstal, na periferia de Liège, Bélgica. A maioria das armas produzidas nesta empresa, costuma ter o prefixo “FN” colocado antes da denominação das mesmas, como por exemplo: FN SCAR, FN P-90, etc. Aliás, a “FN”, completa em 2014, 125 anos de funcionamento, sendo atualmente o maior produtor de armas leves da Europa.
Entrada da sede da FN, situada na rua Voie de Liege, em Herstal.  O Grupo Herstal, está desde 1997 sob controle do governo da Região da Valônia, na Bélgica. Produz armas e acessórios das marcas "FN Herstal", "Browning" e "Winchester Arms", possuindo atualmente fabricas na Bélgica, EUA, Japão, Portugal e Finlândia.

O FN-49
      Terminada a Segunda Guerra Mundial, os fabricantes de armamento iniciaram o desenvolvimento de novas armas, aplicando as lições aprendidas no conflito. No que se refere aos fuzis, o sucesso daqueles com funcionamento semiautomático (GARAND M1, TOKAREV SVT 38/40, CARABINA M1, G43) e principalmente, do fuzil de assalto STG-44, levaram a percepção que um novo tipo guerra havia surgido. O conflito ensinou que a figura dos confrontos entre grandes contingentes, seja avançando em campo aberto ou entrincheirados, havia ficado no passado. Os combates, agora ocorriam a médias e curtas distâncias e, algumas vezes, no meio urbano, requerendo armas capazes de fornecer grande volume de fogo e mobilidade para o combatente.
      A FN, em vista das mudanças observadas, logo visualizou o mercado surgido pela reestruturação das forças armadas e policiais dos países envolvidos na 2ª GM, bem como, pela necessidade de adequação do armamento ao novo “Estado da Arte”. 
      Em 1947, através da equipe liderada pelo projetista Belga Dieudonné Joseph Saive, foi concluído o projeto de um fuzil semiautomático. O desenvolvimento desta arma fora iniciado por Saive em 1936, sendo interrompido devido à ocupação da Bélgica por parte da Alemanha, em maio de 1940. No entanto, Saive conseguiu refúgio na Inglaterra, onde continuou trabalhando no projeto, tendo inclusive, produzido alguns modelos para testes com as tropas. A arma foi produzida em diversos calibres (7x57 mm Mauser, 7.65x53 mm Argentino, 7.92x57mm, .30-06 Springfield) e teve bom grau de aceitação, sendo adotada por vários países, como: Argentina, Bélgica, Congo Belga, Brasil, Colômbia, Egito, Indonésia, Luxemburgo e Venezuela. A sua designação oficial foi "F.N. Model 49 Self Loading Rifle", no entanto, ficou conhecido internacionalmente como FN-49 ou SAFN-49. No Brasil, foi adquirida a versão em calibre .30-06 Springfield (7,62X63 mm), sendo que na Marinha, ele era chamado simplesmente como “FS” e ficou em uso (na Armada) até o inicio dos anos 90.

Protótipo de 1937 do fuzil que viria a se tornar o FN-49
      O SAFN-49 é uma arma semiautomática, com coronha, fuste e guarda mão em madeira, normalmente nogueira. A suas características básicas são as seguintes:
  • Funcionamento:  Por aproveitamento dos gases, através de um pistão de curso curto, localizado sobre o cano, acionando (através de um impulsor) um ferrolho basculante. No inicio do cilindro de gases, à frente da massa de mira, está localizado um "obturador" cuja função é abrir ou fechar o evento de admissão de gases, do cano para o cilindro. Este obturador permite, quando aberto, o funcionamento semiautomático, e quando fechado, o lançamento de granadas ou tiro de repetição. Imediatamente à retaguarda do conjunto da massa, existe um anel aparafusado em torno do cilindro de gases, cuja função é controlar a abertura de um orifício no cilindro, liberando para a atmosfera os gases desnecessários a um funcionamento seguro e "suave". O anel regulador de gases foi intencionalmente colocado sob a parte superior do guarda mão (também chamado de "telha"), para que o soldado utilizador não tenha acesso, porém é relativamente fácil para um armeiro fazer a regulagem, quando necessária.
  • Alimentação: O carregador é do tipo caixa, não destacável, com capacidade para 10 cartuchos. A alimentação e feita no sentido de cima para baixo, com clips de cinco cartuchos, inseridos em uma guia existente na tampa da caixa de culatra ou através de cartuchos individuais. Existe um retém para o carregador na parte traseira do seu receptáculo, no entanto, ele só pode ser acionado utilizando-se uma ferramenta, como uma chave de fenda.
  • Aparelho de pontaria: É constituído por alça tipo lâmina com graduações de 100 até 1000 metros, com cursor e visor. A massa, por sua vez, é do tipo torre, com proteção lateral.
  • Operação e segurança: A alavanca de manejo situa-se no lado direito da arma e é solidária ao impulsor do ferrolho. A alavanca de segurança é localizada no lado direito do guarda-mato e seu acionamento para baixo, além de imobilizar mecanicamente o gatilho, interpõe-se entre o dedo e gatilho, impedindo o disparo. Na parte inferior do guarda-mato há um orifício, onde aflora um pino (parte inferior da guia da mola do martelo) dando indicação que a arma está engatilhada.
      O acabamento geral das armas é de excelente qualidade e são atualmente muito valorizadas entre os colecionadores. A abordagem relativamente longa do FN-49 neste artigo, deve-se ao fato que o fuzil acabou por ser considerado como o "Pai do FAL". O leitor poderá observar que ambas as armas possuem muito em comum, sendo o FAL, embora quase contemporâneo do SAFN, uma evolução das ideias e soluções adotadas no "Pai".

Fuzil FN-49 do contrato venezuelano em calibre 7X57 mm Mauser. A Venezuela foi o primeiro país a adotar o fuzil em 1949.

Fuzil FN-49 do contrato argentino, com adaptação local para carregador destacável de 20 cartuchos e calibre 7,62X51 mm NATO. Originalmente, os fuzis comprados pela Argentina eram no calibre 7,65X53 mm Argentino. Há noticias de emprego limitado do FN-49, por parte das tropas argentinas, como fuzil de precisão, durante a Guerra das Malvinas.
ENFIM, O FAL 
      Paralelamente à conclusão do projeto do FN-49, a equipe de Dieudonné Saive, iniciou em 1946, o desenvolvimento de um fuzil de assalto, utilizando a princípio, o calibre desenvolvido na Alemanha nazista, o 7,92X33 mm. No inicio de 1947, o primeiro protótipo no calibre alemão estava pronto e foi apresentado para testes por observadores belgas e ingleses em 1948.
 
Protótipo da FN Universal Carbine, no calibre 7,92X33 mm Kurz, testado em 1948.


O engenheiro Dieudonné Joseph Saive trabalhando no projeto do FAL.
OS TESTES 
      Nesta mesma época, a Inglaterra, desenvolvia um projeto próprio de fuzil de assalto, o EM-2 (Experimenthal Model nº 2). Este fuzil, foi projetado utilizando a configuração Bullpup, considerada bastante revolucionária para a época. A ideia era que a arma disparasse um cartucho intermediário, o .280 British (7X43 mm), também desenvolvido pelos ingleses, no mesmo período. A Inglaterra, solicitou então à FN que produzisse alguns modelos de sua "Universal Carbine" compartimentados para este cartucho. Em 1950, a FN apresentou os protótipos para testes pelos ingleses, em duas versões, uma como fuzil de assalto “standard” e outra na configuração “Bullpup”, ambas no calibre .280.
      
      A apresentação das armas, chamadas de F.N. Automatic Carbines, foi realizada conforme o texto abaixo (em tradução livre) retirado de documentos da época (fevereiro de 1950):

Protótipo da FN Carbine na configuração BullPup e calibre .280.
Protótipo da FN Carbine em configuração longa e calibre .280.
Protótipo do fuzil EM-2


      Tanto os EUA quanto a Inglaterra, pretendiam substituir seu armamento padrão de infantaria, em vista das lições aprendidas na 2GM. Com a criação da OTAN, em abril de 1949, seus membros, começaram a pensar na padronização do armamento utilizados pelas forças armadas desta Aliança.  Diante dessa nova perspectiva, ingleses e americanos realizaram testes, em 1950, com as armas elencadas acima, bem como, com um modelo de fuzil projetado nos EUA, chamado T25,  que utilizava um novo calibre desenvolvido recentemente: o T65, versão em testes daquele que mais tarde seria o famoso cartucho 7,62X51 mm NATO.

Protótipo do fuzil T25. Note o alinhamento da coronha com o eixo do cano, solução que seria adotada futuramente no AR-15, para maior controle em tiro automático.
      Como resultados dos testes, o calibre .280 foi julgado inadequado pelos americanos, que solicitaram à FN que reapresentasse seu fuzil, dimensionado para o cartucho T65. O fuzil T25 foi recolhido para melhorias e os ingleses, embora impressionados pela carabina FN, saíram satisfeitos com o EM-2 e o seu calibre, que acabou por ser adotado no ano seguinte, em 1951.

      Nos anos seguintes, a FN além de enviar vários lotes de fuzis para testes nos EUA (versão Standard e cano pesado), já compartimentados para o cartucho T65, também liberou a patente, para produção local da arma. Vários exemplares foram produzidos nos Estados Unidos, pelas empresas Harrington & Richardson (H&R), de Worcester,  Massachusetts (500 unidades) e High Standard Company, de Hartford, Connecticut (13 unidades). Estes fuzis, tanto os belgas quanto os americanos, receberam a denominação de T48 e concorreram em diversos testes com a versão atualizada do T25, chamada T47 e com a versão evoluída do M1 Garand, o T44. 
      Após várias avaliações, que se estenderam de 1952 até 1956, sendo o T47 descartado logo nos primeiros testes, o T44 foi finalmente declarado vencedor e escolhido para substituir o fuzil Garand M1, em 1957. Adotado pelo exército americano, o T44 recebeu a denominação de M14.
Protótipo do fuzil T47.
Protótipo do fuzil T44.


Protótipo do fuzil T48, produzido pela Harrington & Richardson. 
Protótipo do fuzil T48, produzido pela FN.
      Até hoje, existem diversas discussões em torno da questão do FAL ter sido considerado inferior ao M14. Os americanos argumentam que nos testes finais, o T44, além de ser cerca de 1 libra mais leve, mostrou-se mais robusto e simples, além de ter um desempenho superior, quando testado no frio do Ártico. Entretanto, sabemos que a teimosia dos ianques em impor o calibre 7,62X51 mm, descaracterizou o FAL como fuzil de assalto, que era a sua concepção original. Sabemos também que o ponto fraco do FAL, nesta disputa, nunca admitido por escrito, foi o seguinte: Ele não era americano.
      Como dito anteriormente, a Inglaterra, em 1951, resolveu adotar o fuzil EM-2 no calibre .280. No entanto, em outubro do mesmo ano, o Sr. Winston Churchill foi novamente eleito e em 1952, resolveu revogar a adoção do EM-2, com a finalidade de manter a unidade com os EUA e seu cartucho T65, em proveito da padronização da OTAN. 
      Tendo em vista que os americanos continuavam os testes com o FAL e o Canadá já o havia adotado em 1953, com a denominação C1, a Inglaterra também adotou a fuzil da FN em 1954, chamando-o L1A1 SLR (Self-Loading Rifle). Os ingleses esperavam que após este ato, os EUA finalmente se decidiriam pela arma belga. Todavia, como vimos acima, isto não ocorreu, ficando os ianques com o fuzil projetado em seu próprio país.

     Após o Canadá e a Inglaterra, o FAL espalhou-se pelo globo, sendo escolhido como arma padrão de infantaria por mais de 70 países. Em alguns dos países onde a arma foi adotada, como África do Sul, Austrália, Argentina, Áustria, Brasil, Canadá, Chile, Inglaterra, Índia, Israel e México, ela foi produzida sob licença, com poucas modificações em seu projeto original.

      Salvo o caso da Venezuela, que foi o único país a adquirir um lote de fuzis, em 1954, no calibre 7X49 mm (desenvolvido por técnicos belgas e venezuelanos), o FAL foi produzido tendo como calibre padrão o 7,62X51 mm NATO (.308 Winchester).


Fuzil FAL em calibre 7X49 mm, adquirido pela Venezuela em 1954.

AS VARIANTES 
      De maneira geral, o FAL foi produzido em dois tipos fundamentais: O padrão "Polegadas", dimensionado pelo sistema de medidas imperiais e utilizado principalmente nos países da Comunidade Britânica  e o padrão "Métrico", utilizado pelos demais países. As principais diferenças entre os tipos, são as seguintes: 
Detalhe das alavancas seletoras de tiro e de manejo, bem como das chavetas do trinco da armação. Esquerda: Padrão "Métrico", direita: Padrão "polegadas".
Detalhe dos reténs do ferrolho e do carregador. Esquerda: Padrão "polegadas", direita: Padrão "Métrico"
Detalhe dos "cavados" de fixação do carregador. Esquerda: Padrão "polegadas", direita: Padrão "Métrico"
Detalhe dos carregadores. O usado no Padrão "Métrico" pode ser usado no Padrão "Polegadas", porém o contrário não é possível.  Esquerda: Padrão "polegadas", direita: Padrão "Métrico".
Detalhe dos impulsores do ferrolho. Acima: Padrão "Métrico". Abaixo: Padrão "Polegadas", com cortes transversais para escoamento de areia e outras sujeiras.
Detalhe das massas de mira, dos anéis de regulagem e dos obturadores do cilindro de gás. Esquerda: Padrão "polegadas", direita: Padrão "Métrico".
A FN, por sua vez, produziu o FAL nas seguintes configurações:
  • 50.00 (STANDARD) - Versão padrão com cano de 533 mm e coronha fixa;
  • 50.61 - Versão "Para" com coronha tubular rebatível e cano padrão de 533 mm;
  • 50.62 - Versão "Para" com coronha tubular rebatível e cano de 458 mm;
  • 50.63 - Versão "Para" com coronha tubular rebatível, alavanca de manejo dobrável, sem alça de transporte e cano de 406 mm;
  • 50.64 -  Versão "Para" com armação em liga de alumínio, coronha tubular rebatível e cano padrão de 533 mm; e
  • 50.41/50.42 - Também denominado FALO ( do francês: Fusil Automatique Lourd, em português: Fuzil Automático Pesado), é uma versão com cano reforçado (pesado), destinado a servir como arma de emprego coletivo a nível de esquadra de tiro, funcionando como uma metralhadora leve. Para esta versão foram produzidos carregadores com capacidade para 30 cartuchos, no entanto, ela pode utilizar os carregadores padrão de 20 cartuchos. No Brasil, é conhecido como FAP (Fuzil Automático Pesado). A diferença entre  a versão 50.41 e a 50.42 é que a primeira possui a coronha e o guarda-mão em material sintético e a 50.42, em madeira. 
      As configurações listadas aqui visam apenas dar uma visão superficial das versões produzidas, visto que ao longo dos anos, as mesmas sofreram modificações em alguns países produtores e até mesmo pela própria FN.
Vista lateral direita de um FN FAL 50.63. Notar a ausência da alça de transporte e o cano curto.
FN FALO (FAP) versão 50.42
O FUNCIONAMENTO 
      O FAL é uma arma de tiro seletivo, permitindo o tiro intermitente (semiautomático), de rajada (automático) e o lançamento de granadas de bocal ou tiro de repetição. No entanto, a versão adotada pelos ingleses (L1A1) e pelos países da comunidade britânica (padrão "polegadas"), eram em quase sua totalidade restritos apenas ao funcionamento semiautomático. 
      Embora a maioria das versões fabricadas permitirem o tiro automático, quem já teve oportunidade de atirar com um FAL, sabe que devido à potência de sua munição, é extremamente difícil o seu controle quando atirando deste modo. Desta forma, a doutrina de emprego do fuzil, em quase todas as forças armadas onde ele foi adotado, foi de não recomendar e até mesmo proibir a seus soldados a utilização de fogo automático. 
      A exemplo do FN-49, o FAL também possui um obturador para o cilindro de gases, com funcionamento idêntico. Possui também um anel para regulagem dos gases, no entanto, ao contrário do FN-49, este fica exposto e facilmente acessado pelo usuário. Esta condição é um dos pontos positivos do fuzil, pois em caso da arma estar muito suja, o atirador pode ir fechando o escape de gases e mantê-la funcionado mesmo em condições severas.

      O funcionamento do FAL, a princípio, segue os mesmos fundamentos das armas que funcionam por aproveitamento dos gases e de forma muito semelhante ao do FN-49, entretanto, sua alavanca de manejo foi colocada no lado esquerdo da arma. 
      Tomemos por base, que a arma já está com o carregador municiado, alimentada e carregada (cartucho na câmara):
  1. É realizado o disparo, a pressão dos gases resultantes da queima da carga de projeção impulsiona o projétil ao longo do cano. A arma permanece trancada devido ao ferrolho estar firmemente preso entre a câmara e o seu apoio. Na altura do terço médio do cano, há um evento (orifício) na sua parte superior, que permite a passagem dos gases para o cilindro, caso o obturador esteja na posição aberto. O cilindro de gases, por sua vez, está posicionado sobre e paralelo ao cano; 
  2. No interior do cilindro está alojado um êmbolo com mola própria, que ao receber a pressão dos gases na sua face frontal, aciona o impulsor do ferrolho através da sua parte posterior, voltando em seguida a posição inicial por ação de sua mola;
  3. O impulsor do ferrolho ao receber a pancada do êmbolo, recua livre alguns milímetros, quando então, através de suas rampas de destrancamento, aciona o ferrolho para cima e logo após para a retaguarda, fazendo o destrancamento, a abertura e a extração do estojo que está preso pela garra do extrator;
  4. Ao recuar, a haste do impulsor do ferrolho comprime o conjunto de molas recuperadoras, situado dentro da coronha (na versão Standard) (*1); 
  5. Durante o recuo do conjunto impulsor/ferrolho, a parte superior do martelo (cão) é acionada para trás, fazendo-o girar em torno de seu eixo, comprimindo sua mola e ficando em condições de ser retido pelo mecanismo do gatilho;
  6. O estojo, que até este momento encontrava-se preso à face do ferrolho pelo extrator, encontra o ejetor que o faz girar e ser expulso través da janela de ejeção; e
  7. Ao final do recuo das partes moveis, as molas recuperadoras impulsionam o conjunto impulsor/ferrolho para frente. Ao passar sobre o carregador, o ferrolho retira um cartucho e o introduz na câmara, fazendo o carregamento. Neste momento, ocorre também a prisão da virola do estojo pelo extrator. Logo após, o ferrolho é forçado a descer sua parte posterior pela ação das rampas de trancamento do impulsor e fica novamente retido entre a câmara e o seu apoio, dando-se o trancamento. A arma está pronta para um novo disparo.

      O funcionamento descrito aqui não inclui o funcionamento automático, tampouco o movimento de todas as peças envolvidas. A finalidade é dar ao leitor mais leigo, uma ideia elementar sobre como funciona esta arma tão famosa.

(*1) Nas versões "Para", as molas recuperadoras estão entre um alojamento existente na parte superior do impulsor do ferrolho e um apoio na parte posterior da tampa da caixa de culatra.


Vista em corte de um FN FAL "Standard".  Observe que na imagem, a arma está na condição de final de recuo das partes moveis, com molas recuperadoras comprimidas e mecanismo de disparo armado.
FICHA TÉCNICA (versão Standard): 
Tipo: Portátil - Fuzil de assalto (*2);
Emprego: Individual;
Calibre: 7,62X51 mm;
Carregador: Metálico, destacável, bifilar, tipo caixa, com capacidade p/20 cartuchos;
Funcionamento: Aproveitamento dos gases (pistão com mola localizado sobre o cano, acionando o impulsor de um ferrolho basculante);
Comprimento: 1,10 m;
Peso (C/carregador vazio): 4,2 Kg;
Velocidade teórica de tiro: 650 a 700 TPM;
Velocidade pratica de tiro: Automático: 120 TPM e semiautomático: 60 TPM;
Cano: Raiado (4 raias à direita, com passo de 304 mm) e comprimento de 533 mm; e
Miras: Massa tipo torre com proteção lateral com ajuste em elevação e alça tipo lâmina graduada de 100 em 100 até 600 metros e ajuste em direção.


(*2) No que se refere à classificação do FAL como Fuzil de Assalto, existe uma controvérsia em torno da inclusão da arma nesta categoria. Ela decorre de uma nova classificação, denominada: BATTLE RIFLE (Fuzil de Batalha ou Fuzil de Combate). Usada principalmente nos Estados Unidos, esta categoria engloba as armas que embora satisfaçam a maioria dos requisitos para serem fuzis de assalto, não utilizam um calibre classificado como intermediário. Podemos citar como principais exemplos, as seguintes armas: FAL, HK G3 e M14.
Vista explodida de um FN FAL 50.00, Métrico, incluindo a identificação das peças.
Vista explodida de um FN FAL Métrico, versão Para (50.61)
O FAL NO BRASIL 
      Ao final da Segunda Guerra Mundial, o Brasil, assim como grande parte dos países envolvidos, sentiu necessidade de modernizar e padronizar o armamento de sua infantaria, acompanhando o atual "Estado da Arte", na época. Em meados dos anos cinquenta, o Exército iniciou os testes com a nova arma produzida pela FN. Em 1964, o FAL foi finalmente adotado com a designação de Fuzil 7,62 M964 "FAL". Juntamente com a adoção, foi concedida a licença para produção local das armas, o que foi feito na Fabrica de Itajubá (FI), atual IMBEL. O fuzil, além do Exército, foi adotado também pela Marinha, sendo usado na Armada e pelos Fuzileiros Navais.
      A IMBEL continua produzindo o FAL até hoje, tornando o Brasil, juntamente com os Estados Unidos, (quem diria) os últimos países a fabricá-lo. No entanto, a produção nos EUA, ao contrario do Brasil, não se destina a atender encomendas governamentais e sim à grande demanda de atiradores e colecionadores.

      Atualmente, o FAL ainda permanece em uso no EB e na MB, tornando o Brasil, salvo engano, o último país do mundo, a ter forças armadas regulares equipadas com esta arma. Entretanto, conforme a Portaria nº 211-EME, de 23 de outubro de 2013, do Estado Maior do Exército, o fuzil IMBEL A2 (IA2) no calibre 5,56X45 mm, foi adotado pela força e deve gradativamente substituir os "velhos" FN FAL. Na Marinha, na década de noventa, o fuzil Colt M16A2 substituiu o FAL  nas unidades operativas de Fuzileiros Navais, porém ele ainda permanece em uso na Armada e em algumas unidades do CFN.
      As variantes adotadas no Brasil incluem a versão "standard" (50.00), com coronha e guarda-mão em material sintético, a versão "Para", normalmente chamado de "Parafal", que recebeu aqui a denominação de Fuzil M964 A1 e a "FALO" (50.41) que aqui foi chamado de FAP (Fuzil Automático Pesado). Embora a tendência seja de substituir o FAL pelo IA2, esta arma é e continuará sendo por muitos anos a referência em armamento de infantaria para várias gerações de militares, sejam eles soldados ou marinheiros.

AS BAIONETAS 
      Em linhas gerais, as baionetas utilizadas pelo FAL, no mundo, foram as seguintes:

Tipo A:
      Este modelo,  usado nas armas que não possuem qualquer dispositivo na boca do cano, foi considerado inovador na época, devido a um "êmbolo" com mola situado no interior do punho. Este dispositivo, faz a baioneta "flutuar" durante seções de tiro rápido ou em rajadas, minimizando a interferência na precisão da arma. Outra característica deste tipo é um supressor de flash, situado acima e a frente do anel de fixação. Podem ser encontradas variantes do tipo "A" com talas do punho em madeira, plástico ou metal.

Baioneta e bainha do tipo "A". A bainha, de aço, segue o mesmo padrão da FN Mauser Exportação, desenvolvida na década de vinte.
Desenho mostrando a baioneta tipo "A" calada.

Tipo B:
      Este tipo foi desenvolvido para os fuzis equipados com o quebra-chamas longo, estilo Browning. Esta variante, difere do tipo A devido a uma lâmina mais curta e por não possuir o supressor de flash. Devido às armas que utilizaram o quebra chamas longo não terem sido muito difundidas, este tipo de baioneta, hoje é considerada raridade.
Baioneta tipo "B", modelo utilizado pela policia da África do Sul.
Adaptação da baioneta tipo "B" ao FAL. Note o longo quebra-chamas tipo "Browning".

TIPO C:
      No início da década sessenta, a OTAN padronizou as granadas de bocal em 22 mm. Como resultado, a FN desenvolveu um novo modelo de quebra chamas, para adaptação das granadas STANAG ao FAL. Como consequência, também houve necessidade da criação de um novo tipo de baioneta. Foi criada então a baioneta, de alvado, que hoje é conhecida como tipo "C". Este modelo possui uma lâmina de cerca de 170 mm (podendo variar alguns milímetros, dependendo do fabricante) com a parte superior plana e a inferior curva. Este é o tipo de baioneta do FAL, mais comum e a mais fácil de ser encontrada, sendo usada em dezenas de países, com pequenas variações entre os modelos. As bainhas podem ser fabricadas em aço ou plástico.

Baioneta e bainha do tipo "C".
Quebra chamas para granadas STANAG de 20 mm e baioneta tipo "C".

SÉRIE L1:
      Baseada no design da baioneta do Lee-Enfield, este modelo recebeu a designação do fuzil no qual era escalada. Assim, existem as seguintes variações: L1A1, L1A3 e L1A4 produzidas na Inglaterra, L1A2 na Austrália, C1 no Canadá e 1A na Índia. De forma geral, os modelos são bastante parecidos, com apenas algumas variações no tamanho das lâminas ou no material empregado.

 
Acima: Baioneta e bainha modelo L1A2, produzida na Australia e, abaixo: Modelo indiano 1A, com sua respectiva bainha. A versão 1A, é a baioneta mais longa utilizada no FAL, podendo ter lâminas de 8 ou 10 polegadas.

O FAL PELO MUNDO


Testes do veiculo de reconhecimento HZ-1 Aerocycle em meados da década de cinquenta, no EUA. Note que o tripulante está equipado com um fuzil T48.
Soldado canadense em treinamento com seu C1A1. Observe a alça de mira de anéis rotativos graduada de 200 a 600 jardas e a guia para alimentação por clips, situada na parte superior da tampa da caixa de culatra. Estas características, somadas a um percussor de duas peças, constituem os principais pontos que identificam a versão canadense do FN FAL. O Canadá foi o primeiro país a adotar a arma em 1953. 
Fuzil FN FAL na versão adotada pelas IDF (Forças de Defesa de Israel). O modelo israelense, chamado de Rov've Mittan ou Romat, é facilmente identificado pelo guarda-mão característico, que utiliza uma combinação de chapa de metal e madeira. Outro ponto a ser observado neste modelo, é o seletor de tiro em forma de bumerangue.
Soldados argentinos equipados com o FAL durante a Guerra das Malvinas. Neste conflito, o fuzil foi empregado pelos dois lados, sendo o L1A1 pelos ingleses e a versão Métrica produzida localmente, pelos argentinos.
Imagem recente de soldados do Exército Brasileiro desfilando com o FAL.
Em 2010, o líder do Hezbollah Hassan Nasrallah, presenteia o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com um fuzil FAL que teria sido capturado de um combatente israelita durante a ofensiva de 2006. Ocorre, que esta arma saiu de serviço nas IDF, cerca de 30 anos atrás. Claro exemplo de propaganda política para o público desinformado.
Vista lateral esquerda de um L1A1.
Vista lateral de um FAL produzido para a Alemanha Ocidental. Ele foi designado localmente como G1. A característica que permite a rápida identificação desta variante é o guarda-mão de metal prensado com linhas horizontais. O G1 foi adotado no exército da Alemanha Ocidental em 1956, sendo logo substituído em 1959, devido à recusa dos belgas em liberarem a patente para produção local. Como resultado da negativa da FN em liberar a produção da arma, os alemães adotaram o CETME espanhol e a partir dele passaram a produzir HK G3, que se tornaria o maior rival do FAL, no ocidente. 
Versão do FAL produzida pela empresa americana DSArms. As versões produzidas nesta empresa recebem a denominação de FAL SA58. A imagem corresponde à variante FAL SA58 mini-OSW (Operational Specialist Weapon).
Soldado venezuelano durante a revolução de 1958, equipado com um FN FAL no calibre 7x49 mm. Posteriormente, estas armas teriam sido reformuladas para "calçar" o cartucho 7,62X51 mm NATO.